O hoteleiro em 2022 – entrevista com o presidente Helenio Waddington

Helenio Waddington

Conversamos com o presidente Helenio Waddington sobre os desafios e aprendizados dos últimos anos para o profissional de hotelaria e as perspectivas para o ano de 2022. Com mais de meio século de experiência como hoteleiro, o empresário comenta sobre os dois anos desafiadores para o setor de turismo e como os hotéis brasileiros saem fortalecidos deste momento.

1. Há tantas décadas atuando na hotelaria, o que você acredita que mudou no perfil dos hotéis independentes no Brasil?

Acredito que nossa oferta de hotéis independentes e de luxo cresceu e se diversificou, alcançando destinos antes pouco procurados. A concepção do que é luxo também evoluiu e, com ela, o foco maior na personalização e no atendimento diferenciado e de qualidade. A sustentabilidade e a responsabilidade social e ambiental também passaram a fazer parte da proposta de luxo, com muitos hotéis atualmente se preocupando e agindo pelo futuro do planeta. Embora essa seja uma premissa dos hotéis que fazem parte da Roteiros de Charme desde a sua fundação, em 1992, vemos que hoje o número de hospedagens que trabalham com práticas de sustentabilidade é muito maior.

2. Quais aprendizados a pandemia trouxe para os hoteleiros?

Aprendemos sem dúvidas, em primeiro lugar, a sermos mais resilientes e flexíveis. Precisamos entender como lidar, inicialmente, com o turismo completamente estagnado, e a preocupação com a saúde e sustentabilidade financeira de nossos funcionários e estabelecimentos. Afinal, fechar as portas não seria positivo para ninguém. Em seguida, fomos aprendendo sobre como trabalhar com questões de segurança e sanitárias e como equilibrar estas sem deixar cair a qualidade e o cuidado no atendimento aos hóspedes. O setor de turismo esteve diante da suspensão do mercado internacional, mas, aos poucos, fomos ganhando a confiança do turista brasileiro. Ao mesmo tempo em que as pessoas foram sendo tomadas pela vontade de viajar, instabilidade econômica e sanitária exigiram de nós maior flexibilidade nas políticas de pagamento e cancelamento. Por todas as suas características, esta foi, sem dúvida, uma crise sem igual na nossa história. Mas acredito que estamos saindo dela mais conscientes e fortalecidos.

3. Qual você acredita que é o papel dos hoteleiros e da hotelaria na retomada do turismo neste momento?

De acordo com o relatório Global Travel Accommodation Market, da Allied Market Research, o tamanho do mercado global de acomodações para viagens foi avaliado em US$ 632,8 bilhões em 2018 e está projetado para chegar a US$ 893 bilhões até 2026, registrando uma taxa de crescimento anual composta de 4,50%, entre 2019 e 2026. Isso quer dizer que a hotelaria tem um papel essencial no setor, considerando-se também a enorme geração de empregos e a sua função de acolhimento ao turista. Entendo que nós podemos e devemos assumir a liderança em adequar nossos produtos às novas tendências e demandas do planeta: o turismo responsável com seu potencial de desenvolvimento socioeconômico; os viajantes mais conscientes e exigentes e o grande combate às mudanças climáticas. Temos a responsabilidade, junto com outros atores do turismo, de voltar a movimentar e fortalecer a economia dos destinos e, para isso, precisamos estar atentos às necessidades do mercado neste momento, que incluem serviços como o “hotel office”, com internet de alta velocidade, e acomodações para famílias que viajam juntas.

4. Como tem sido o trabalho da Roteiros de Charme junto aos hotéis e viajantes?

Durante esses dois anos, procuramos acompanhar de perto nossos associados e abastecê-los com informações relevantes para o momento. Criamos o Guia de Orientação para elaboração do plano de contingência para a reabertura, alinhado às recomendações de órgãos reguladores e administração pública, para auxiliar os hotéis com as mudanças e implementações sanitárias e de segurança necessárias. Entendemos que a sustentabilidade ganhou uma nova dimensão neste momento, abrangendo também a sustentabilidade sanitária. Mantivemos nossa comunicação com o setor e os viajantes, através de newsletters, blog, imprensa e redes sociais, com o intuito de informar e inspirar. Aproveitamos para profissionalizar ainda mais nosso Marketing, com uma forte parceria com a agência Empório High Tech, a Arteiras Comunicação e a plataforma RD Station. Com isso, estamos tendo oportunidades únicas de traçar o perfil dos nossos hóspedes e alcançá-los com informações relevantes.

5. O que é importante fazer parte da essência e do trabalho do empresário ou profissional hoteleiro?

O primeiro passo, sem dúvida, é a paixão. É preciso gostar de receber, de acolher. Não temos dias nem horários definidos e trabalhamos nos fins de semana. É importante ter certeza de que estamos ali não só por trabalho, mas também por vocação. A capacitação e atualização constante também são aspectos imprescindíveis. Precisamos acompanhar as tendências e entender o que nossos hóspedes buscam, além de nos preocuparmos com os impactos que estamos gerando nos destinos onde atuamos. Eu diria que sensibilidade e flexibilidade também são características importantes para o hoteleiro, já que vivemos sempre o desafio de atender o cliente da melhor maneira possível.

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